sábado, dezembro 12, 2009

terça-feira, dezembro 08, 2009

O António Variaçoes é o maior (cantado pelo Camané ainda melhor)

Estou além

Porque só estou bem aonde nao estou. (e é assim que sabe bem)

P.S.- peço desculpa pela falta de acentos mas por estas terras nao têm o sonido "AO" tao português...)

quarta-feira, novembro 18, 2009

Hoje lembrei-me das tardes que passávamos lá em casa, todos à volta da mesa grande, de madeira escura, a conversar e a ver as corridas na televisão. Todos falavam muito alto e lembro-me, especialmente, da voz dele e do meu pai porque são as duas muito características e porque juntas geravam ainda mais barulho e confusão entre todas as outras vozes. Lembro-me da televisão também estar muito alta e de se ouvir o barulho dos carros a passarem na estrada, sabem aquele som?
Havia sempre comida na mesa, petiscos e coisas que a tia fazia. E lá estava ele outra vez: "aqui podes comer tudo minha querida, não tenhas medo!" Irritava-me tanto na altura aqueles comentários. Depois ria-se, alto. E contava piadas e histórias de outros tempos e eu ficava a ouvir muito atenta, lembro-me que gostava de ouvi-los conversar. E ria-se outra vez, alto. E o riso dele é daquelas coisas que nunca vou conseguir esquecer (ou espero).
Depois o que me lembro também é do cheiro da garagem. Não era só a combustível mas também aos pneus e a outros materiais.
Mas o que me surgiu muito claro (em imagem e som) hoje, foram aquelas tardes. Acho que era Verão (parece-me que sinto o calor). E na quinta fazia muito calor, parecia que tudo parava, até os cães se esparramavam preguiçosos no chão. E agora lembro-me que lhes fazia festinhas no cachaço e dizia: "oh meus cãezinhos".

quarta-feira, outubro 21, 2009

prefiro o "passageiros em trânsito"

"Imaginem um rapaz correndo de mota numa estrada secundária. O vento bate-lhe no rosto. O rapaz fecha os olhos e abre os braços, como nos filmes, sentindo-se vivo e em plena comunhão com o universo. Não vê o camião irromper do cruzamento. Morre feliz. A felicidade é quase sempre uma irresponsabilidade. Somos felizes durante os breves instantes em que fechamos os olhos."

José Eduardo Agualusa in "O Vendedor de Passados"


Muito à "City of Angeles" (aliás, a primeira imagem que me surgiu na cabeça foi a Meg Ryan de braços abertos e de caracóis loiros perfeitinhos a flutuarem ao vento) mas ainda assim ficou na memória.
Tenho de fechar mais vezes os olhos (ou abri-los melhor).

quarta-feira, outubro 14, 2009

Bem-vindo




Hoje, às 15e17 nasceu o Manuel, o meu querido esquimózinho. Tem o meu nome e tudo. Mas a ele cai-lhe melhor.

terça-feira, outubro 13, 2009

pouco sono (e muitos sonhos)

Sonho nº 1 com a sala, fiquei apovorada outra vez.
Sonho nº 2 que queria tirar uma foto a todos mas não aparecia ninguém no ecrã (Freud explicaria isto com certeza).
E no outro dia sonhei: contigo.

segunda-feira, outubro 12, 2009

Tibidabo







(lá mesmo, mesmo no cimo) a melhor vista sobre Barcelona

sexta-feira, outubro 09, 2009

ensaio(s)










Somos poucos entre tantos. Não somos assim tão especiais, nem assim tão importantes. Somos um em muitos. E eventualmente estamos (quase) sempre sós.

segunda-feira, outubro 05, 2009

Recordação da bila. a Guga na Gomes




Vou ter aulas de Fotografia (tenho medo). "Até estranhava se não dissesses isso" - comentou. Eu ri-me, é verdade.

segunda-feira, setembro 28, 2009

A Casa Portuguesa (na Gràcia)





Finalmente encontrámo-la. Um bocadinho de Portugal mesmo, mesmo aqui ao lado. Crítica (construtiva) só deixo uma: fazem falta uns produtos nortenhos. Uns covilhetes ou uma rica feijoada caíam bem.

sexta-feira, setembro 25, 2009

sobre a vida e o esquecimento

"Como creio ter-te dito, é raro olhar-te numa fotografia. Porque então estás cingida aos teus limites onde és menos tu. Mas tenho os teus livros e cadernos (...). É terrível folheá-los e sobretudo ver a tua escrita e pensar que tu estiveste ali e és tu nesse estar, presente ausente no que escreveste e ficou. A tarde escurece e vou-me esquecer um pouco, antes que me digas esquece. E sê contente com a vida, que esquece também."

Vergílio Ferreira in "Cartas a Sandra"

quinta-feira, setembro 17, 2009

(molt) em feia por




Geralmente são espelhos. Não um espelho normal de casa de banho ou quarto, mas sim dois espelhos frente a frente ou vários na mesma divisão. Deixa-me sem ar. Parece que o espaço se torna infinito em tempo e lugar (o que remete para outras questões de existência, do universo e afins que me recuso a enfrentar).
No outro dia, numa sala de um edificio de oferta turístico-cultural (que não vou aqui referir, correndo o risco de parecer um guia turístico pretencioso) tive medo, a sensação de ansiedade, de não querer virar a esquina. O antecipar horripilante da ponta do iceberg da qual o nosso inconsciente nos tem tentado proteger a vida inteira (mesmo à filme de terror). Era uma sala negra com cerca de 10 televisões (daquelas gordas, antigas - nada de ecrãs LCD) assim com "piquinhos" cinzentos como quando a antena não consegue encontrar sinal. Todas as televisões assim, "desintonizadas" e o barulho horrível desse caos televisivo.
Mas, nos últimos tempos, o que me tem perseguido são os sonhos (/pesadelos). Todas as noites quando me deito tenho medo: de acordar, ter o corpo cansado e preguiçoso de viver.
Há uns dias levantei-me e foi tudo normal. Não percebi na altura mas a sensação desapareceu e o cansaço também. "São fases"
Aqui fica uma foto da tal exposição da qual não vou referir a proveniência (quem for minimamente culto que se delicie - pretenciosidade outra vez).

quarta-feira, julho 22, 2009

a dúvida

Apercebi-me há pouco tempo que pode ser a pior coisa que conhecemos. E se?e será? mas e? as constantes perguntas o insustentável sufoco a mesma perseguição outra e outra e outra vez.
Há coisas que nunca vou ter coragem de perguntar. Há coisas que nunca me vão saber responder. Há coisas às quais me vão sempre mentir.

e às vezes olhamos para fora do nosso círculo de resignação e acontece:
"doubts. I have such doubts!"

domingo, julho 12, 2009

Hoje, às 6 e 43 da manhã, nasceu o Benjamim


e tem a boquinha mais querida que já alguma vez vi.

quarta-feira, julho 08, 2009

afinal é isto

"Costuma dizer-se que nos caiu um fardo em cima. Carregamos esse fardo, suportamo-lo ou não o suportamos. Lutamos com ele, perdemos ou ganhamos. Mas o que acontecera ao certo com Sabina?(...)
O seu drama não era o drama do peso, mas o da leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser."

Milan Kundera


o vazio.

quinta-feira, junho 11, 2009

(submersa n)O Quarto do Filho

"(...) Um filme sobre uma das mais penosas (e também inevitáveis) dimensões da existência humana: o trabalho de luto face às perdas que vamos sofrendo. É algo que se sente no corpo vivo do filme, na vibração inigualável dos actores (Moretti e Laura Morante são sublimes).
É também algo que celebra cinema como peça vital de um modo singular de entender e habitar o Mundo.
Trata-se de olhar à sua volta e...ser livre. É a mais difícil de todas as coisas."

Joaão Lopes
Premiére, Fev. 2002

quem é quem?

terça-feira, junho 09, 2009

watch your back

Descobri no outro dia que o meu mundo pode ser tudo uma ilusão criada pela minha mente esquizofrénica. Logo: tudo o que vejo e experiencio é criado por mim, deixando pra trás das costas um universo de nada. Resultado: um olhar de esguelha (completamente infrutífero, já que continua a ser o meu olhar criador) para trás das costas uma vez por dia.
Diz que é o fenomenismo radical.
Ah e qualquer coisa pode estar atrás das minhas costas. Até um rinoceronte, o Doraemon ou o Obama. Ou os três. Medo.

domingo, junho 07, 2009

eternal sunshine of the spotless mind


E se pudéssemos apagar alguém da nossa memória? Apesar de ter apanhado o filme já no final, agradou-me a ideia e a forma estranha e bizarra adoptada para o realizar. Se pudessémos empacotar sensações, momentos, imagens, se pudéssemos eliminar constantemente o passado, se pudéssemos constantemente voltar à (pura) inocência?
Um filme que nos põe a pensar sobre vários temas: a memória, a dor e a saudade...e se pudéssemos eliminar tudo isso (será que conseguiríamos?).
E se pudéssemos apagar alguém da nossa memória? Quem apagarias?

segunda-feira, maio 25, 2009

agora, um pouco de Nanni

"Aquele pouco que se pode mudar na vida não se muda por um processo racional; muda-se porque acontecem coisas, muito dolorosas ou muito belas. E essas, às vezes, são ocasiões para se mudar um pouco, esse pouco que podemos mudar."

Nanni Moretti (em entrevista ao Ípsilon)


- esperar mudar querer confundir relembrar afastar insistir desistir agarrar desprender. O caos calmo de Nanni. Tanta coisa a passar-se, tão rápido. E a verdade é que o meu desejo é sentar-me num banco de jardim, a olhar em volta, sem propósito algum.

quinta-feira, maio 21, 2009

luzes, câmara, acção




É verdade, começou a fase de filmagens e com ela surgiram uma série de variantes: dúvidas, caos e uma enorme dor de costas. No entanto, aqui fica o agradecimento aos figurantes e actores (principalmente aos nossos protagonistas: netto e zé) pela paciência e, claro, boa disposição.

o grande Zizek

"This is my fear: as if I am nothing who pretends all the time to be somebody, and has to be hiperactive all the time, just to fascinate people enough so that they don't know this: that there is nothing."

Slavoj Zizek

terça-feira, abril 28, 2009

completamente viciada

Anónimo

Em onda de barrigas, roupinhas, nomes e outras coisas afins, fiquei temporariamente possuída pelo relógio biológico dos circundantes, e assim cheguei a uma brilhante ideia. Quando um dia (pois, claro) tiver um filho, vou chamar-lhe Anónimo. Qual Pedro, Maria ou Ana? Anónimo. Simples, conciso e simultaneamente misteriosamente ambíguo. Querem nome mais original e carregado de simbolismo? As pessoas vão saber e exclamar "que belo nome".

P.S. - Anónimo ou Anônimo; ainda não decidi se entretanto parto para terras brasileiras.

segunda-feira, abril 20, 2009

deve ser do tempo

Há pouco tempo, numa aula, ainda meia ensonada, tive daqueles cliques que abrem o caminho para um conhecimento profundo. Nascemos (literalmente) agarrados a uma pessoa e passamos uma vida inteira à procura de outra, com quem morrer. Uma estranha forma de tentativa de regresso ao sentimento oceânico. Uma vontade enorme de ver necessidades e desejos completamente satisfeitos: O que não chega a acontecer mas, paradoxalmente, continuamos a tentar (um masoquismo cego). Afinal, é isto o amor.

domingo, abril 12, 2009



auto-retrato na praia do forte. eu regressei mas (infelizmente) o calor não.

quinta-feira, março 26, 2009

(de)lite

Acho piada a essa cambada de pseudo-intelectualóides que gosta de falar por meias palavras, em tom arrogante. Dizem umas piadas, elaboram frases complexas e incompreensíveis, deixam umas pistas aqui e ali na tentativa de demonstrarem o seu elevadíssimo Q.I., aah e claro espalham sempre por onde passam, um certo desinteresse artístico. São inteligentes de nascença, "cool", têm gostos estranhos, um estilo no mínimo peculiar e detestam os meros mortais. São alienados do mundo, por vezes antipáticos e transpiram um charme que só eles percebem. Já qualquer pessoa esbarrou com uma criatura destas.
Eu não os compreendo acho que são simplesmente irritantes.

sábado, março 21, 2009

esta noite improvisa-se!



Tal como a peça, a partir de agora decidi improvisar. Não pensar grande coisa, não me cansar, apenas improvisar. Largar a máscara ou, talvez, pegar noutra. Deixar uma parte de mim ou, quem sabe, reinventá-la.
Esta peça é inspirada na obra revolucionária de Luigi Pirandello de 1921. Já agora, fica aqui a manifestação de agrado pela peça em si que, creio, deveria ter-se empenhado (ainda mais) no improviso.

terça-feira, março 17, 2009

"dois"



Agora, já gritam os dois "Mané" constantemente e com quase perfeita dicção. Não é pra me gabar, mas (e é um dado adquirido) são absolutamente irresistíveis.

domingo, março 08, 2009

Já te disse para parares. Tira os dedos da boca, ainda vais fazer ferida. Porque é que continuas a pensar na mesma coisa, já não passou? Então pára de remoer as mesmas coisas, estás a deixar-me enjoada sempre com a mesma conversa. Tira daí a mão, não vais alterar o som na televisão outra vez, pois não? Essa paranóia é ridícula. A verdade é que fazes sempre as mesmas asneiras, já era hora de teres aprendido. Afinal, de que é que tens medo? Estás sempre assim por qualquer coisa, é um bocado irritante. Esse poder de acumulação então, deixa-me com os nervos em franja. Estás triste, chateada? Azar. É tudo mimo. Levanta-te. Recompõe-te. Deixa de ser fraca e faz alguma coisa em vez de te encravares nesse processo de auto-comiseração. Já era hora de parares de fazer birra, pareces uma criança. Sentes-te sozinha? Temos pena, todos têm problemas. Achavas que ias estar sempre rodeada de gente? Que ia ser sempre tudo igual? As coisas mudam, a vida é assim e esses clichés todos. E para que interessam os porquês? Para quê saber as razões? Afinal porque é que queres continuar a pensar em coisas que já estão resolvidas? 'o que não tem remédio, remediado está', era assim qualquer coisa parecida. Se já decidiste o que queres porque é que pensas no resto? Ah e pára de tirar o fiambre do pão, as pessoas olham.

quarta-feira, março 04, 2009

Há dias

"Há dias em que só pensamos no futuro. E dias em que temos saudades de quase tudo"

Eles olham para as ilustrações, apontam e balbuciam palavras sem sentido. Eu leio em tom teatral e deixo frases a meio. Tarefas de tia. A ler, repetidamente, livros de crianças, folheados à pressa, algumas frases ficam na memória.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

o que há em mim é sobretudo cansaço

Hoje vou ficar no escuro. Não quero pensar, não vou pensar, cansa pensar, detesto pensar. Vou só sentar-me no chão do corredor, no escuro e sucumbir ao silêncio. Não faças nada, não fales, não te mexas.
Não tem mal. Na verdade, na maior parte das vezes, é um alívio enorme.


"O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

(...)
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
(...)
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço... "

Álvaro de Campos

terça-feira, fevereiro 03, 2009

a metamorfose


Um dia vou acordar e perceber que me transformei numa barata. Ou numa centopeia. Ou outro bichinho igualmente cativante. Vou ter carapaça dura, pança bem grande, e patinhas longas e peludas.
Vai ser difícil sair da cama, quando mais do quarto. E olha, paciência. Não me vou preocupar: nem com trabalhos ou notas, nem com questões existenciais, problemas de auto-estima ou ainda com relações interpessoais que, diga-se, só dão chatices.
Um dia vou acordar e ver um insecto asqueroso em mim. E olha, vou recostar-me na cama, puxar o cobertor, comer umas bolachas e dormir uma sesta.

sábado, janeiro 24, 2009

Falta qualquer coisa. Aqui dentro às vezes desperta a ansiedade. Outras, adormece. Falta qualquer coisa. Falta. Ainda não percebi bem o quê.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

"O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o príncipio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida."

in Livro do Desassossego, Bernardo Soares


(numa visita apressada ao antigo blog ficou na memória este comentário de um - antigo - visitante regular)

sexta-feira, janeiro 16, 2009

A Importância de ser Obama

Em determinadas épocas aparecem heróis. Representem eles o que representarem (seja a decadência da droga, os problemas do álcool ou a triste instabilidade emocional), simplesmente são heróis e ponto. Falamos de personagens como Elvis Presley, o cativante rei do rock’n roll, Marylin Monroe, a loira atrevida que cantou os parabéns ao seu querido Kennedy e claro falamos de Barack Obama. O herói dos nossos tempos. Resumidamente ele tem tudo e vai-nos salvar. Seja qual for o seu problema ou inquietação, o Obama resolve.
Já me tinha apercebido desta autêntica “obamamania”, quando dei por mim a perguntar às pessoas se pudessem em quem votariam, mas o meu verdadeiro acordar aconteceu há poucos dias.
O almoço tinha caído bem e já não havia nada a fazer, estava a ser completamente assolada pela típica sensação de mente dormente e corpo cansado que geralmente se tem depois de uma boa refeição. De repente, algo me acordou da sestinha de velhote que dorme sentado: tocou a campainha. Quase de imediato, ouviu-se o barulho da loiça a ser abandonada provisoriamente e a empregada gritou em tom estridente e irritante um “Já boouu” à moda do Norte. E pronto acabara-se o descanso. Chegaria agora o caos disfarçado de gémeos angelicais. Não demorou muito para que a confusão se instalasse. Folheava o jornal e, quando estava finalmente a interessar-me por um artigo, tiraram-mo das mãos para satisfação do desejo duma das crianças. “Rais parta aos miúdos” pensei. Mas na verdade, a dita criança estava bastante irrequieta e precisava de um motivo de distracção. “Olha o Obama! Já Viste? Este é o Obama!” insistia alguém com o miúdo. “Podia estar eu a ler o artigo mas não” fugiu-me outro pensamento. Foi aqui que o meu dia parou. Após cinco minutos a apreciar atentamente a fotografia do homem mais badalado dos nossos dias, a criança ainda de poucas palavras disse com cara séria e carrancuda “Obama”. E continuou a olhar, a apontar e a dizer repetidamente “Obama, Obama”. Mas note-se que não foi um daqueles casos em que os pais dizem que as crianças já falam muito mas que depois quando as ouvimos falar não percebemos nada. O miúdo de um ano e pouco disse Obama com toda a dicção, com todo o tom de quem sabe do que está a falar. É verdade.
O Obama na televisão, o Obama em jornais, o Obama em cartazes, a voz do Obama na rádio, o Obama em canecas, o Obama em t-shirts, o Obama em postais, quadros, mesinhas de café. O Obama nos blogs, o Obama nas conversas, o Obama como a-primeira-palavra-do-bebé, o Obama nas pastas dos dentes, o Obama nos cereais, o Obama ao virar da esquina. O Obama de todos nós. De sorriso resplandecente, olhos pequeninos, risonhos, expressão amável e de braços abertos para nos ajudar em tudo e mais alguma coisa, aí está Barack Obama. Obama é o homem que todos os homens gostariam de ser (para atrair o público feminino) e o homem que todas as mulheres gostariam de ter. Alto, bem parecido, forte, crítico mas também poeta e sonhador. Há quem o tenha tentado deitar abaixo intitulando-o de intelectual elitista ou de poeta carente de realismo. A verdade é que estamos a falar de Obama, óbvio que qualquer crítica era escusada, claramente inútil. É Obama e pronto. Tem nome de árabe bombista mas ninguém se importa. É preto clarinho, os pretos acham-no pouco preto e os brancos um bocado pardo mas, no fim, ninguém quer saber. Porquê? Porque é Obama.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

"Cá dentro inquietação, inquietação É só inquietação, inquietação Porquê, não sei Porquê, não sei Porquê, não sei ainda Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer Qualquer coisa que eu devia perceber Porquê, não sei Porquê, não sei Porquê, não sei ainda "

José Mário Branco

domingo, janeiro 04, 2009

"The camera doesn't rape, or even possesse, though it may presume, intrude, trespass, distort, exploit, and, at the farthest reach of metaphor, assassinate (...)"
Susan Sontag in "On Photography"