segunda-feira, setembro 04, 2006

É verdade. As pessoas mudam. Os sentimentos, as opiniões, as perspectivas, tudo se altera seja por obra do acaso ou pela nossa própria vontade que muitas vezes vai contra as leis da razão. Nada é permanente e inalterável e é isso que nos magoa: a falta de segurança, a falta de saber que algo permanecerá sempre (em qualquer circunstância) do nosso lado. E é assim que nos apegamos às coisas, que criamos raízes, que mergulhamos na nostalgia. É um vago sentimento de saudade do passado mas acima de tudo é uma vontade imensa de um presente estável e de um futuro garantido. Precisamos de dizer que algo é “nosso”, necessitamos de admitir que temos provas concretas que nos ligam a alguma coisa, que nos definem de alguma maneira. Chamam-lhe sentimento de pertença, eu digo que é pura ingenuidade. Como se algo pudesse ser realmente nosso… Nada nos pertence verdadeiramente (sejam coisas materiais, fictícias, irreais). Aliás, por muito irónico que pareça, algo só nos pertence quando temos a oportunidade de dar a alguém e, mesmo nesse momento, deixa de ser nosso para passar a ser, por tempo indefinido, algo sem dono e sem lugar, ansiando por ser presente, outra vez.
Agora compreendo porque é tão gratificante o acto de dar, de oferecer. Afinal, é nesse preciso instante, em que abdicamos de algo que é mesmo “nosso”. Damos uma parte de nós e apercebemo-nos que não somos ocos, porque para “dar” é preciso “ter”.