sexta-feira, outubro 26, 2007

As corridas

Ele hoje disse-me que tem passeado, que tem andado por aí como sempre o fez. Ele hoje disse-me que tem estado por perto, que nos tem feito companhia mesmo sem o sabermos. Ele hoje disse-me que a quinta e os cãezinhos lá continuam, que a garagem lá vai andando e que há mais uma corrida que não pode perder. Ele hoje disse-me que tem estado em festas de anos, em épocas especiais, ou naquela simples e deliciosa conversa de rua, de café, de ocasião, onde contávamos com a sua presença. Ele hoje disse-me que ainda ouve o ruído da estrada, sente a pressão das mãos no volante, a adrenalina a correr no espírito, os gritos da multidão, a ansiedade pela meta. Ele hoje disse-me, em tom de confissão, o quanto aprecia o seu sonho permanecer vivo naqueles que o acompanharam na doce rapidez dos tempos. Ele hoje disse-me tudo o que eu sei que diria. Ele está mais que nunca vivo dentro de nós e acima de tudo vivo dentro do seu próprio sonho de velocidade, vida, de muita paixão, esses que nunca se desvanecem e que, como hoje, vemos serem representados noutras situações. É assim que nos deparamos com o seu típico sorriso mesmo diante de nós...o tio Fefé.

sexta-feira, outubro 19, 2007

A curva da alegria

Sabem aquela altura óptima na nossa vida que começamos a sentir que tudo pode ficar bem? Que ainda há tanta magia pela frente?
A minha avó Águeda chamava curva da alegria à parte do Marão em que se começava a avistar Vila Real. Foi a minha mãe quem me contou esta história à qual eu sempre achei imensa graça e decidi intitular-lhe erradamente de "curva do riso"(engraçadas as analogias das crianças...).
Mas ontem, pela primeira vez, quando vinha a caminho da "bila", apercebi-me de que o nome para aquela curva não podia ter sido melhor escolhido. Apercebi-me da alegria que é a cidade, as situações e as pessoas nos abraçarem devagar e em segredo à medida que contemplamos o lugar que nos viu crescer. A alegria de saber que chegámos e que não importa para onde vamos ou o que quer que façamos, seremos sempre bem recebidos e sentiremos o conforto de saber que após uma longa e estafante viagem, chegámos, finalmente, a casa.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Tiago Bettencourt, Canção Simples

Gostei desta comparação, deste elogio: fazes muito mais que o sol. Também sinto que há coisas que tocam sem estarem por perto, que nos fazem bem estando longe. Há coisas que nos aquecem por dentro como o sol o faz por fora.

CANÇÃO SIMPLES

(...)
Tens os raios fortes a queimar
Todo o gelo frio que construí.
Entras no meu sangue devagar
E eu a transbordar dentro de ti.

Tens os raios brancos como um rio,
Sou quem sai do escuro para te ver,
Tens os raios puros no luar,
Sou quem grita fundo para te ter.

Fazes muito mais que o sol.
Fazes muito mais que o sol.
Fazes muito mais que o sol.
Fazes muito mais...

Quero ver as cores que tu vês
Para saber a dança que tu és.
Quero ser do vento que te faz.
Quero ser do espaço onde estás.

Deixa ser tão leve a tua mão,
Para ser tão simples a canção.
Deixa ser das flores o respirar
Para ser mais fácil te encontrar.
(...)

terça-feira, outubro 16, 2007



Sorriem, dão a mão, apertam-na decididos. Zangam-se, fazem birras e abanam com força aquelas perninhas que mais parecem umas canetas. São pequeninos, cabem nos nossos braços e cheiram bem... e eu sou a tia e ainda não dá para acreditar no título. E são MEUS sobrinhos e também não dá para acreditar. Lindos, especiais os nossos bolinhas...

São dias assim

"Qualquer ligação pressupõe uma desligação. O on não faz sentido sem o off e vice versa"
Ouvi, compreendi, racionalizei, assimilei. Mas não gostei, de todo. Porque que é que aquilo que mais prezo neste mundo, que são os sentimentos, as emoções, aquela química invisível que passamos secretamente uns para os outros, está destinada a desaparecer tão espontaneamente quanto aparece? E será que é assim tão bom por sabermos que um dia pode acabar? O prazo é o que nos faz aproveitar ou seríamos igualmente felizes (ou ainda mais) se tivéssemos todo o tempo para experiências, momentos, situações incrivelmente diferentes e igualmente carregadinhas de intensidade? Os segundos, os minutos, as horas e os dias que passam estão afinal do nosso lado ou são apenas mais uma invenção nossa que nos faz pensar mais e sentir menos? Estaremos nós a antecipar desligação das nossas ligações?...

apetites

Não vivo para escrever nem escrevo para viver. Vivo para viver e gosto de escrever quando sinto que tudo está bem ou que tudo parece correr tão mal. Ou quando simplesmente me apetece transmitir por palavras algo que quer sair daqui de dentro. Ou quando me apetece e pronto. Não sou artista mas faz-me bem, é só.

quinta-feira, outubro 11, 2007

21 gramas

o peso da alma o peso das memórias o peso dos risos e dos choros o peso do toque o peso do pensamento o peso do olhar e do respirar o peso dos amores e desamores o peso da tristeza o peso do desespero o peso da alegria e da felicidade o peso da compaixão o peso da entrega o peso dos objectivos e das metas o peso da vingança o peso do orgulho o peso do preconceito o peso do coração acelerado o peso do engolir em seco o peso da euforia o peso das descobertas e dos mistérios o peso de um flashback o peso de um momento um peso de vários momentos o peso daquele calor interior o peso daquilo que somos o peso da vida