sábado, janeiro 24, 2009

Falta qualquer coisa. Aqui dentro às vezes desperta a ansiedade. Outras, adormece. Falta qualquer coisa. Falta. Ainda não percebi bem o quê.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

"O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o príncipio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida."

in Livro do Desassossego, Bernardo Soares


(numa visita apressada ao antigo blog ficou na memória este comentário de um - antigo - visitante regular)

sexta-feira, janeiro 16, 2009

A Importância de ser Obama

Em determinadas épocas aparecem heróis. Representem eles o que representarem (seja a decadência da droga, os problemas do álcool ou a triste instabilidade emocional), simplesmente são heróis e ponto. Falamos de personagens como Elvis Presley, o cativante rei do rock’n roll, Marylin Monroe, a loira atrevida que cantou os parabéns ao seu querido Kennedy e claro falamos de Barack Obama. O herói dos nossos tempos. Resumidamente ele tem tudo e vai-nos salvar. Seja qual for o seu problema ou inquietação, o Obama resolve.
Já me tinha apercebido desta autêntica “obamamania”, quando dei por mim a perguntar às pessoas se pudessem em quem votariam, mas o meu verdadeiro acordar aconteceu há poucos dias.
O almoço tinha caído bem e já não havia nada a fazer, estava a ser completamente assolada pela típica sensação de mente dormente e corpo cansado que geralmente se tem depois de uma boa refeição. De repente, algo me acordou da sestinha de velhote que dorme sentado: tocou a campainha. Quase de imediato, ouviu-se o barulho da loiça a ser abandonada provisoriamente e a empregada gritou em tom estridente e irritante um “Já boouu” à moda do Norte. E pronto acabara-se o descanso. Chegaria agora o caos disfarçado de gémeos angelicais. Não demorou muito para que a confusão se instalasse. Folheava o jornal e, quando estava finalmente a interessar-me por um artigo, tiraram-mo das mãos para satisfação do desejo duma das crianças. “Rais parta aos miúdos” pensei. Mas na verdade, a dita criança estava bastante irrequieta e precisava de um motivo de distracção. “Olha o Obama! Já Viste? Este é o Obama!” insistia alguém com o miúdo. “Podia estar eu a ler o artigo mas não” fugiu-me outro pensamento. Foi aqui que o meu dia parou. Após cinco minutos a apreciar atentamente a fotografia do homem mais badalado dos nossos dias, a criança ainda de poucas palavras disse com cara séria e carrancuda “Obama”. E continuou a olhar, a apontar e a dizer repetidamente “Obama, Obama”. Mas note-se que não foi um daqueles casos em que os pais dizem que as crianças já falam muito mas que depois quando as ouvimos falar não percebemos nada. O miúdo de um ano e pouco disse Obama com toda a dicção, com todo o tom de quem sabe do que está a falar. É verdade.
O Obama na televisão, o Obama em jornais, o Obama em cartazes, a voz do Obama na rádio, o Obama em canecas, o Obama em t-shirts, o Obama em postais, quadros, mesinhas de café. O Obama nos blogs, o Obama nas conversas, o Obama como a-primeira-palavra-do-bebé, o Obama nas pastas dos dentes, o Obama nos cereais, o Obama ao virar da esquina. O Obama de todos nós. De sorriso resplandecente, olhos pequeninos, risonhos, expressão amável e de braços abertos para nos ajudar em tudo e mais alguma coisa, aí está Barack Obama. Obama é o homem que todos os homens gostariam de ser (para atrair o público feminino) e o homem que todas as mulheres gostariam de ter. Alto, bem parecido, forte, crítico mas também poeta e sonhador. Há quem o tenha tentado deitar abaixo intitulando-o de intelectual elitista ou de poeta carente de realismo. A verdade é que estamos a falar de Obama, óbvio que qualquer crítica era escusada, claramente inútil. É Obama e pronto. Tem nome de árabe bombista mas ninguém se importa. É preto clarinho, os pretos acham-no pouco preto e os brancos um bocado pardo mas, no fim, ninguém quer saber. Porquê? Porque é Obama.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

"Cá dentro inquietação, inquietação É só inquietação, inquietação Porquê, não sei Porquê, não sei Porquê, não sei ainda Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer Qualquer coisa que eu devia perceber Porquê, não sei Porquê, não sei Porquê, não sei ainda "

José Mário Branco

domingo, janeiro 04, 2009

"The camera doesn't rape, or even possesse, though it may presume, intrude, trespass, distort, exploit, and, at the farthest reach of metaphor, assassinate (...)"
Susan Sontag in "On Photography"