quinta-feira, julho 26, 2007

Hoje

Hoje ele levantou-se com inesperada ânsia. Arregalou os olhos avermelhados, contraiu os músculos e apercebeu-se do frenesim inestético que (até hoje) tinha passado despercebido dentro de si. Vasculhou os papéis com escrita apressada, invadiu a loucura, abriu as portas daquele sentimento vazio que habitava lá bem no fundo e que agora teimava em dissolver as barreiras do inconsciente. Talvez um chá quente ou um copo de leite de frio. Talvez um banho relaxante ou uma boa massagem. Talvez até uma conversa aberta, sincera. Não, já nada curava este bichinho inquieto, insistente, insaciável.
Hoje ele levantou-se e abriu a sua alma às palavras soltas. Deixou as formas, as imagens, as linhas, as cores, a simetria, a confusão, a realidade e a ilusão apoderarem-se de todos os seus sentidos. Abriu a mente transbordante, limpando-a por momentos, dispondo-se finalmente a absorver em dimensão total e completa o mundo a negro, de ouvidos bem abertos.
Hoje ele tocou, viu, sentiu, amou cada elemento que o rodeava e acarinhava a cada segundo. Hoje ele pôs os pés no chão e apercebeu-se não só da sua existência mas do toque especial que essa mesma existência tem num mundo que não o seu. Hoje ele sabe. Está vivo.

terça-feira, julho 24, 2007

Sabem quando fazemos uma pergunta qualquer a uma criança e ela simplesmente, com uma expressão muito convicta diz :"porque sim"? Às vezes é mesmo o que me apetece, dizer "porque sim". Afinal tudo tem de ser assim tão confuso, de tão exigida meditação e drama? Tem de haver tantas questões, tantas noites mal dormidas, tantos momentos incertos? A vida tem de ser levada assim tão a sério? Eu cá passo a brincar com o destino. Quero rir com força, com vontade do que se passa à minha frente. Porquê?? PORQUE SIM.

sexta-feira, julho 13, 2007

Quero ir. Quero ficar. Deixar a saudade e levar as lembranças bem entranhadas no corpo, bem aconchegadas na alma... O que quero é deixar um pouco de mim, ir embora, esquecer, e no entanto pra sempre lembrar...


"e agora eu vou-me embora
e embora a dor não queira ir já embora,
agora eu vou-me embora
e parto sem dor."

Sérgio Godinho

terça-feira, julho 10, 2007

"Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho."


Alberto Caeiro, "Eu nunca guardei rebanhos"


E é assim. Ter aquele desejo de simplesmente não pensar...não só para não se sofrer tanto nos piores momentos, como também para tirar o total partido dos melhores.

Quero Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir Sentir...e não pensar.