sexta-feira, fevereiro 13, 2009

o que há em mim é sobretudo cansaço

Hoje vou ficar no escuro. Não quero pensar, não vou pensar, cansa pensar, detesto pensar. Vou só sentar-me no chão do corredor, no escuro e sucumbir ao silêncio. Não faças nada, não fales, não te mexas.
Não tem mal. Na verdade, na maior parte das vezes, é um alívio enorme.


"O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

(...)
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
(...)
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço... "

Álvaro de Campos

Um comentário:

quem? disse...

cansaço. boa escolha, e a atenção de quem simpatiza.