quinta-feira, julho 26, 2007

Hoje

Hoje ele levantou-se com inesperada ânsia. Arregalou os olhos avermelhados, contraiu os músculos e apercebeu-se do frenesim inestético que (até hoje) tinha passado despercebido dentro de si. Vasculhou os papéis com escrita apressada, invadiu a loucura, abriu as portas daquele sentimento vazio que habitava lá bem no fundo e que agora teimava em dissolver as barreiras do inconsciente. Talvez um chá quente ou um copo de leite de frio. Talvez um banho relaxante ou uma boa massagem. Talvez até uma conversa aberta, sincera. Não, já nada curava este bichinho inquieto, insistente, insaciável.
Hoje ele levantou-se e abriu a sua alma às palavras soltas. Deixou as formas, as imagens, as linhas, as cores, a simetria, a confusão, a realidade e a ilusão apoderarem-se de todos os seus sentidos. Abriu a mente transbordante, limpando-a por momentos, dispondo-se finalmente a absorver em dimensão total e completa o mundo a negro, de ouvidos bem abertos.
Hoje ele tocou, viu, sentiu, amou cada elemento que o rodeava e acarinhava a cada segundo. Hoje ele pôs os pés no chão e apercebeu-se não só da sua existência mas do toque especial que essa mesma existência tem num mundo que não o seu. Hoje ele sabe. Está vivo.

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